Por muito tempo, o fluxo migratório brasileiro foi marcado pela população convergindo para os grandes centros. As capitais representavam maiores chances de oportunidades profissionais, crescimento pessoal, opções diversas de lazer e de construir um futuro melhor. No entanto, esse cenário já não é o mesmo atualmente. Agora, cogitar um aluguel em Campinas ou outra cidade do interior é visto como uma escolha mais acertada e benéfica.
A expansão para o interior é um processo que já é perceptível pelas imobiliárias. A disseminação do trabalho remoto nos últimos anos abriu possibilidades para muitos trabalhadores, que enxergam no interior a chance de desfrutar de mais qualidade de vida. Segundo dados do Agente Imóvel, a busca por residências no interior cresceu 28% nos últimos dois anos — um forte indício dessa mudança de cenário, com boas chances de consolidação dessa tendência no futuro próximo.
Por que morar no interior?
Quais são os motivos que estão convencendo parte da população a buscar por opções em cidades menores no interior? Quando se fala em “qualidade de vida”, trata-se de um termo muito amplo, que envolve diferentes fatores.
Talvez um dos principais deles seja o custo de vida, um fator que pesa especialmente para quem tem uma família e não mora mais sozinho. Esse custo de vida envolve todos os gastos mensais, como contas de luz, água, internet, compras de supermercado, educação, combustível, condomínio e aluguel. Esses dois últimos são cruciais nesse cálculo, uma vez que a média do aluguel e condomínio nas capitais é consideravelmente superior. Desse modo, para ter uma vida financeira menos apertada, as famílias cogitam morar em cidades menores.
Outros fatores que pesam muito na decisão são a segurança e o trânsito. No primeiro caso, o índice de violência nas cidades interioranas é inferior ao dos grandes centros, proporcionando uma vida menos arriscada e mais tranquila. Tranquilidade que também é fruto de se livrar do trânsito intenso das capitais.
Muitas pessoas perdem horas do dia presas em engarrafamentos, consequência da concentração populacional elevada das metrópoles brasileiras. Um tempo valioso que poderia ser gasto se exercitando, realizando tarefas domésticas, passando mais tempo ao lado da família ou simplesmente descansando — tempo que a vida no interior pode proporcionar.
Até mesmo um maior contato com a natureza é um fator determinante nessa escolha. Os municípios do interior costumam ter mais áreas verdes preservadas, além de lagos e rios limpos. Por serem locais menores e com menor gasto em deslocamento, fica até mais fácil visitar cachoeiras e montanhas próximas, permitindo incluir práticas de exercícios saudáveis na rotina.
E como o mercado imobiliário está lidando com essa nova realidade?
Com a demanda para viver no interior crescendo, de que modo o mercado imobiliário está se adaptando? Afinal, é preciso disponibilizar soluções que consigam agradar esses novos moradores, que podem apresentar um perfil diferente dos habitantes nativos dessas cidades.
Por exemplo, é importante que os imóveis apresentem versatilidade, com ambientes que possam ser adaptados para diferentes funções, como academias particulares ou home office. Destacam-se também opções capazes de oferecer soluções completas, como condomínios que oferecem área de lazer, academias, parques para pets e até mesmo centros comerciais internos. A ideia é oferecer ao morador toda a praticidade e comodidade que ele precisa, sobretudo para quem não vai precisar sair de casa para trabalhar.
A sustentabilidade também é uma característica indispensável. As pessoas estão mais rigorosas nesse assunto, demandando construções que envolvam o uso de materiais ecológicos, como tintas atóxicas, materiais reciclados e madeira certificada. Além da construção em si, há uma preocupação maior com o reaproveitamento de recursos (como captação de água da chuva) e eficiência energética. Ou seja, projetos que utilizem sistema de energia solar ou valorizem e favoreçam a iluminação natural estão mais visados e tornam-se mais atrativos.
O mercado imobiliário também está se adaptando aos novos modelos de moradia, que também se transformaram bastante na última década. Conceitos como coliving e flex living, que já se tornaram comuns nos EUA e na Europa, agora ganham espaço no Brasil. Esses são imóveis compartilhados ou unidades que possibilitam contratos de curta duração, incluindo serviços agregados — como internet, limpeza e áreas de lazer coletivas. É um modelo que tem atraído sobretudo estudantes, jovens profissionais e nômades digitais, uma vez que ele oferece mobilidade, convivência em comunidade e custos reduzidos.