O som das ruas sempre foi mais do que pano de fundo. Ele é um narrador invisível, capaz de contar histórias sobre épocas, costumes e transformações sociais. Em um passado não tão distante, cada bairro possuía sua própria trilha sonora, marcada por pregões, sinos, buzinas e vozes que davam ritmo à vida cotidiana.

    O pregão como identidade sonora

    Antes da popularização das redes sociais e das compras online, eram os vendedores ambulantes que anunciavam seus produtos com cantos e frases ritmadas. O vendedor de pamonha, o afiador de facas e o entregador de gás não precisavam de propaganda impressa: seu som inconfundível percorria as ruas e se tornava parte da memória afetiva dos moradores.

    Sinos, apitos e marcadores de tempo

    Muitas cidades brasileiras tinham pontos de referência sonoros que marcavam as horas e os acontecimentos. Sinos de igrejas chamavam para a missa, sirenes de fábricas indicavam o início e o fim do expediente, e apitos de trens anunciavam partidas e chegadas. Esses sons não apenas informavam, mas também reforçavam o senso de comunidade.

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    Transformações e silêncios modernos

    Com a urbanização acelerada e o avanço da tecnologia, grande parte desses sons desapareceu ou foi abafada pelo trânsito intenso e pela poluição sonora genérica. Em vez dos pregões, agora ouvimos notificações de aplicativos. O resultado é uma paisagem sonora mais uniforme, mas menos rica em significados culturais.

    Memória e preservação dos sons urbanos

    Pesquisadores e artistas têm se dedicado a registrar e catalogar sons antigos para que não se percam. Projetos de “arqueologia sonora” capturam gravações de mercados, festas populares e atividades do dia a dia, criando arquivos que podem ser usados em documentários e exposições. Assim como algumas plataformas digitais, como a VBET, investem em experiências imersivas para conectar o público a conteúdos, esses registros sonoros oferecem uma forma de reviver o passado com intensidade sensorial.

    A importância da paisagem sonora na identidade

    Os sons de uma cidade ajudam a construir a identidade coletiva de seus habitantes. Reconhecer um apito ou um toque de sino pode despertar lembranças e fortalecer vínculos emocionais com o lugar. Ao mesmo tempo, compreender e valorizar esses elementos pode inspirar políticas de preservação cultural que vão além da arquitetura e do patrimônio material.

    O futuro das narrativas sonoras urbanas

    A preservação das histórias que os sons carregam depende de iniciativas comunitárias e institucionais. Criar espaços para ouvir e compartilhar essas memórias, seja em festivais, museus ou plataformas digitais, é uma maneira de garantir que a cidade continue falando com seus moradores — não apenas através de imagens e palavras, mas também pelos ecos que moldaram sua vida cotidiana.

    Giselle Wagner é formada em jornalismo pela Universidade Santa Úrsula. Trabalhou como estagiária na rádio Rio de Janeiro. Depois, foi editora chefe do Notícia da Manhã, onde cobria assuntos voltados à política brasileira