Com entregas atrasadas e promessas não cumpridas, o projeto Surfland em Garopaba gera bastante discussão. Surfistas elogiam as ondas artificiais, mas cotistas buscam seus direitos na Justiça, frustrados com o investimento feito.

    O Surfland é um projeto ambicioso em Garopaba, uma cidade muito procurada por turistas e amantes do surfe no Sul do Brasil. Ele promete integrar um resort de multipropriedades e um parque com piscinas de ondas artificiais, usando uma tecnologia nova no país.

    O slogan chamativo diz que “Surfland Brasil é sobre felicidade real e compartilhada”, mas na prática, o que está sendo compartilhado são ações judiciais e a frustração de quem investiu. Esses investidores de cotas agora enfrentam um canteiro de obras parado.

    Anunciado como um clube de surfe com ondas perfeitas em Santa Catarina, o modelo de multipropriedade oferecia aos cotistas duas semanas de estadia por ano, mais a opção de alugar as datas. A promessa de retorno financeiro era atrativa.

    As vendas das cotas começaram entre 2019 e 2020, e a entrega das obras estava prevista para 2022. Entretanto, o prazo passou, e nem o parque nem o resort foram entregues. Com o primeiro atraso, o novo prazo foi estabelecido para 2024 para o resort e para 2023 para o parque.

    O parque foi inaugurado em novembro de 2023, mas o resort teve sua data de entrega alterada várias vezes. Atualmente, a expectativa é para 2026, quatro anos após o prazo inicial. Muitos cotistas começaram a buscar seus direitos na Justiça por conta disso.

    Os investidores estão cada vez mais insatisfeitos. Dados mostram que o número de processos contra a Surfland cresce diariamente. Em agosto, havia 630 ações em que a empresa era ré. O levantamento indica que a maioria dos novos processos foi aberta neste ano.

    A Surfland anunciou uma nova previsão de entrega das obras em partes, começando em março e finalizando em outubro do próximo ano. O parque de ondas, por sua vez, recebeu boas avaliações. Com nota 4,4 de 5, ele tem atraído surfistas de todo o Brasil.

    “Muita gente não acredita mais em nada”, comentam os cotistas que entraram na Justiça contra a Surfland. O empresário Vinícius Lima da Silva, que comprou sua cota em 2019, sente a frustração. Ele já pagou pelo investimento e não viu retorno algum.

    “Na época, eu realmente achei que os aluguéis iam me trazer lucro. Percebi que, mesmo acreditando nas promessas, estou apenas perdendo dinheiro”, desabafa. Agora, ele busca na Justiça o que acredita ser seu direito.

    Outros empresários, como Aldo Peroni, também esperaram um retorno financeiro e decidiram entrar com ações pedindo a devolução do que investiram. “Acredito que muitos que compraram viam isso como uma oportunidade e não como um lazer. Prefiro um acordo e tentar recuperar o que perdi”, afirma Aldo.

    Para tentar amenizar a situação, a empresa ofereceu descontos e condições especiais de uso do parque, mas isso não atraiu quem não reside em Garopaba. Muitos cotistas esperavam ver o valor dos aluguéis ajudando a custear as parcelas.

    O advogado e cotista Tácio Camargo também busca na Justiça um retorno. Ele comprou cotas em dois momentos diferentes e ficou decepcionado com a falta de retorno. “As promessas de retorno financeiro não se materializaram, e o tempo está passando. Estou com dificuldade até para ver minha cota como investimento”, relata.

    Para o advogado, continuar pagando sem ter benefícios é desproporcional. Ele explica que muitos investidores estão pedindo rescisões de contrato e suspensão dos pagamentos. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina já tem concedido esse tipo de liminar.

    Além disso, ele explica que muitos estão tentando cancelar seus contratos diretamente com a empresa, mas muitos ainda não viram o dinheiro de volta. O processo de cancelamento está preso em uma situação que não avança.

    O Surfland é considerado o maior parque de surfe da América Latina, ocupando uma área de 451 mil metros quadrados. O projeto original incluía 30,7 mil metros quadrados de construção, sendo uma parte para o hotel e outra para o parque. Porém, até agora, apenas 7 mil metros quadrados do parque foram concluídos.

    No dia 14 de agosto, o Ministério Público de Santa Catarina iniciou um inquérito civil para investigar a Surfland devido aos atrasos na entrega. O órgão busca entender a situação e saber o que está acontecendo com o projeto.

    Paralelamente, a empresa enfrenta outra ação civil pública, movida pelo Ministério Público Federal. Essa ação questiona danos a áreas de preservação e irregularidades em licenças ambientais. O processo já está na Justiça e destaca preocupações legítimas sobre o meio ambiente.

    A Surfland afirmou que possui todas as licenças necessárias para operar. De acordo com representantes da empresa, os atrasos foram causados por desafios financeiros, mas garantem que as obras devem ser concluídas até 2026.

    Os diretores da Surfland afirmam que têm um fundo de investimento que garantirá os recursos necessários para finalizar o projeto. Eles destacam que as informações sobre a nova previsão foram comunicadas a todos os cotistas.

    Sobre os processos, a Surfland diz que são naturais e fazem parte da relação com o consumidor. Eles argumentam que, apesar de muitos relatos na mídia, os números de ações são pequenos em comparação ao total de cotas vendidas.

    A empresa também explica que nunca prometeu que as cotas seriam uma forma de investimento financeiro. A ideia sempre foi incentivar o uso do tempo em família, sem prometer valores fixos de retorno.

    Em resumo, a Surfland diz estar focada na entrega das obras e reconhece que, se houve falhas, não foram por má fé. Eles afirmam estar comprometidos em honrar os contratos e atender os clientes, mesmo diante das dificuldades encontradas.

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