No século XIX, o medo de ser enterrado vivo era bastante real. Conhecida como tafefobia, essa ansiedade crescia em uma época em que a medicina ainda estava se desenvolvendo. Diagnósticos de morte frequentemente falhavam, gerando incertezas nas pessoas.
Doenças comuns, epidemias como a varíola e ferimentos sem tratamento levavam muitos ao cemitério. Muitas vezes, as pessoas eram sepultadas sem que se tivesse certeza se estavam realmente mortas. Isso gerou inquietação e muita criatividade entre engenheiros e inventores.
Começaram a surgir caixões com dispositivos de segurança. A ideia era garantir que, se a pessoa estivesse viva, pudesse acionar algum mecanismo que alertasse quem estivesse na superfície ou até mesmo permitir a fuga. Os primeiros caixões com esse tipo de segurança foram patenteados no final do século XVIII, especialmente na Europa Central.
Nos Estados Unidos, mais de cem patentes de caixões foram registradas no século XIX. Cada projeto apresentava suas particularidades: havia tubos de ventilação, cordas ligadas a sinos, bandeiras, até escadas para facilitar a saída. Um dos caixões mais famosos foi o projetado por Franz Vester, em 1868, que incluía um tubo com escada, ajudando o “morto-vivo” a sair.
Esse caixão de Vester se destacou por seu design inovador. Ele tinha um sistema onde a tampa abria com o menor movimento, como um movimento da cabeça ou da mão. Vester realizava demonstrações públicas, onde permanecia enterrado por mais de uma hora antes de “ressuscitar”, surpreendendo o público presente.
Havia também mecanismos mais elaborados. Por exemplo, para quem não tivesse forças suficientes, existiam cordas conectadas a sinos acima do túmulo. Assim, se alguém ainda estivesse vivo, poderia tocar o sino para pedir ajuda. Vester era bastante carismático e sabia como prender a atenção do público.
Durante essa época, o Conde Michel de Karnice-Karnicki, considerado camareiro do czar da Rússia, viajavam pela Europa e Estados Unidos mostrando seu caixão conhecido como “Le Karnice”. Esse caixão tinha vários alarmes: sinos, tubo de comunicação, sistema de ventilação e até uma bola luminosa que se erguia. Ele fez demonstrações públicas para provar a eficácia do produto, até mesmo com voluntários que se ofereciam para serem enterrados.
Um caso notável foi o do italiano Faroppo Lorenzo, que ficou nove dias enterrado, estabelecendo um recorde. Essa situação deixou muitos perplexos e curiosos, e gerou interesse na invenção. Embora intrigantes, havia muito ceticismo sobre essas invenções.
Apesar das inovações, os caixões do século XIX não se tornaram populares. As empresas funerárias não mostraram interesse em adaptar esses caixões, e o público frequentemente os via com desconfiança. Não existem muitos registros que comprovem que esses modelos tenham sido fabricados em larga escala ou realmente usados durante funerais comuns.
Os avanços na medicina com o passar do tempo praticamente eliminaram a possibilidade de alguém ser enterrado vivo. Com métodos mais precisos para certificar a morte, os exames realizados hoje garantem que esse medo é, na maioria das vezes, infundado. Além disso, o corpo passa por várias etapas antes do enterro, que ajudam a confirmar o óbito.
Hoje em dia, o assunto pode parecer curioso ou mesmo macabro, mas representa uma época em que a incerteza sobre a vida e a morte gerava inovações e até uma certa paranoia. As pessoas queriam a certeza de que, se houvesse vida, haveria uma saída.
Mesmo com toda a irreverência e criatividade dos inventores, a realidade é que a medicina evoluiu a ponto de permitir que essa questão não seja mais uma preocupação. O estudo do corpo, a prática de exames e o conhecimento sobre os sinais vitais tornaram a possibilidade de ser enterrado vivo uma questão do passado.
Portanto, o medo de ser enterrado vivo, apesar de ser um terror que assombrou muitos, hoje não é mais uma preocupação, graças aos avanços em diagnóstico e medicina. Essa história, cheia de invenções e, por que não, um pouco de humor negro, nos lembra do quanto a percepção da morte e da vida já foi diferente ao longo da história.