Se Eu Morrer Antes de Você…
Caro leitor,
Recentemente, enquanto navegava pelas memórias do meu Instagram, me deparei com um post antigo, de 2021, que traz o mesmo título desta coluna: “Se eu morrer antes de você”.
Nesse post, compartilho um momento especial que tive com meu filho. Estávamos no carro, voltando de mais uma de nossas aventuras quando batemos um papo que me fez refletir sobre a vida. Você já parou para pensar que a vida é como um acordo silencioso entre a gente e o tempo? Em uma daquelas conversas que só o dia a dia proporciona, fizemos um pacto: quando um de nós partir, quem ficar deve fazer uma festa em homenagem à vida do outro. Para ele, despedidas tristes não combinam com a nossa vibe.
Eu realmente acredito na ordem natural das coisas. Para mim, essa é a única perda que pode ser aceita — e essa conversa de hoje não é para focar em tragédias.
Então, fica claro: quando chegar o dia da minha partida, desejo que a despedida seja uma festa. Devemos ter música boa, luzinhas, muitas risadas cheias de saudade e, claro, comida e bebida à vontade.
Enquanto escrevo esta coluna, lembrei de um filme que mexeu muito comigo, “Como Eu Era Antes de Você”. É aquele tipo de filme que faz a gente chorar bastante. Ele aborda um tema bem delicado: a autonomia sobre a própria despedida. O protagonista, Will Traynor, vive uma experiência difícil, já que, após um acidente, acaba preso em um corpo que não responde mais. Ele decide optar pela eutanásia, o que gera discussões profundas sobre liberdade e dignidade.
Recentemente, o poeta e acadêmico Antônio Cícero também fez uma escolha semelhante. Após ser diagnosticado com Alzheimer, ele decidiu partir antes que a doença afetasse sua consciência.
Mas quero deixar bem claro: este texto não é sobre defender a escolha de Will ou a decisão de Cícero. Não é um manifesto sobre a morte, e sim sobre a vida. É sobre como cada um vive à sua maneira e, quem sabe, como prefere encerrar sua jornada. No final das contas, o que realmente conta são as histórias que temos para contar e as memórias que queremos reviver.
A morte é a única certeza que temos, mas, por mais que saibamos disso, não estamos prontos para encarar esse momento. Às vezes, temos medo de pensar na morte — especialmente na juventude. Mas os anos passam e esse tema acaba virando motivo de reflexão.
Mário Lago costumava dizer que a vida é um contrato com o tempo e que, quando esse tempo chega, ele pagaria sem reclamar. O velório dele foi uma verdadeira celebração, repleto de música e cerveja, com muitos fãs e amigos se despedindo.
Se eu morrer antes de você, não quero lágrimas silenciosas, mas risadas que ecoem. Como na famosa música de Noel Rosa, “Fita Amarela”, que ficou imortalizada na voz de Nelson Gonçalves. Na canção, ele expressa o desejo de não querer flores ou coroas de espinhos, mas sim um choro de flauta, com violão e cavaquinho, uma verdadeira festa.
A vida que levamos é uma verdadeira reflexão do que somos. E, se a minha despedida for como uma festa, faz total sentido partir com um som que eu adoro.
E quanto a você? Já parou para pensar no que deseja para a sua despedida?
No fim das contas, o que importa não é apenas como vivemos, mas também de que forma gostaríamos de ser lembrados. Isso nos leva a pensar no legado que queremos deixar.
É preciso lembrar que a vida é feita de encontros, risadas e muitas histórias boas. É sobre aproveitar cada momento e cada oportunidade que nos é oferecida. Vivemos em um mundo cheio de pressa, mas devemos nos lembrar de desacelerar e valorizar os pequenos detalhes do dia a dia.
Despedidas, quando feitas da forma certa, podem ser celebradas. A gente pode soltar a imaginação e criar rituais que reflitam a nossa essência. Seja com danças, músicas, ou até mesmo um bom churrasco entre amigos.
Se a vida é um contrato, então devemos fazer valer cada cláusula. Viver intensamente e criar memórias que durem. O importante mesmo é deixarmos um legado de amor e alegria.
Quando pensamos sobre a própria morte, é natural sentir uma pontada de tristeza ou medo. Mas, ao falar dessas coisas, estamos, na verdade, celebrando a vida. Podemos nos libertar do peso da tristeza e transformar isso em algo positivo, celebrativo.
Da mesma forma que a gente celebra aniversários e conquistas, a morte também pode ser uma alegoria para uma festa memorável. Por isso, vamos focar no que realmente importa, nas nossas experiências e nos relacionamentos que construímos ao longo do caminho.
As relações humanas são a verdadeira essência da vida. E quando falamos sobre despedidas, o que queremos mesmo é que as lembranças sejam alegres. Um sorriso, uma boa conversa, uma música que nos faça lembrar das boas risadas.
Que as despedidas sejam leves, com o coração cheio de gratidão por tudo que vivemos. Vamos compartilhar os momentos bons, celebrar as vitórias e honrar a vida com amor. Afinal, todos nós temos uma história para contar.
Então, chegamos à reflexão final: como queremos ser lembrados quando não estivermos mais aqui? É essa a pergunta que pode nos guiar nas escolhas do dia a dia. Porque, no final das contas, a nossa trajetória é feita de memórias e experiências que valem a pena serem lembradas.