Caro leitor(a),
Recentemente, passei por uma situação que me deixou bem irritada. Compartilhei nas redes sociais, mas resolvi escrever aqui também, pois o que era apenas um desabafo acabou se tornando uma reflexão importante. Geralmente, não sou de me estressar fácil, e muito menos de levantar bandeiras. Porém, uma das coisas que eu mais detesto é ter a minha inteligência subestimada.
Tudo começou quando uma pedrinha bateu no para-brisa do meu carro e fez uma trinca. Fiz o agendamento para a troca com a seguradora, tudo certo. Levei meu computador e fui até a loja, onde fiquei numa salinha participando de reuniões enquanto arrumavam o carro.
Quando cheguei na loja, fui pega de surpresa com a tentativa de me vender um serviço extra que não tinha sido combinado. Disseram que talvez a câmera de ré precisasse ser recalibrada e que, se isso acontecesse, o custo seria R$ 500, antecipado, sem garantia de que realmente seria necessário. Mas e se não fosse preciso? Aí o prejuízo seria só meu. Ótimo negócio para eles, claro.
Depois de três horas, finalmente me chamaram. O vidro tinha sido trocado, mas a borracha? Estava encolhida, mal encaixada e com cola à mostra. Questionei o que tinha acontecido. Recebi várias desculpas: não tinham a peça, estavam esperando autorização da seguradora e que era assim mesmo. O pior é que, durante todo esse tempo, ninguém me avisou sobre nada.
Só esqueceram de um detalhe importante: a dona da corretora de seguros é minha amiga. Enquanto eles tentavam me enganar, eu estava em ligação com ela, que confirmou que havia borracha disponível e que a autorização já tinha sido dada. Eles podiam e deviam ter feito tudo certo desde o começo, mas não fizeram. Porque acharam que eu não ia perceber. Existe essa mania de subestimar a inteligência das mulheres em ambientes tradicionalmente considerados “masculinos”.
E isso não é só um problema técnico. É uma escolha consciente de fazer um serviço mal feito, esperando que uma mulher sozinha aceite isso sem reclamar.
Essas pequenas indignações vão se acumulando. Ocorre não só na oficina, mas também no mercado, no hospital ou no ambiente de trabalho.
E, sim, isso se reflete também nos relacionamentos.
Muitas vezes, quando você cobra respeito, logo vem a resposta de que isso é “ciúmes”. Respeito não se exige, se oferece.
Acredito que o que é bonito deve ser admirado por ambos. Mas tem situações que ultrapassam o bom senso. Sabe aquelas cenas clássicas? Você está em um restaurante ou evento e seu parceiro(a) flerta com alguém na sua frente. Friso que, mesmo vivendo mil anos, não vou entender esse comportamento. Mas cada um tem suas regras. O que foi acordado deve ser respeitado.
Não estou dizendo que o flerte é um problema, afinal, o vento sopra para todos os lados. No entanto, se você questiona, a resposta geralmente é: “Você está com ciúmes.”
Mas não é ciúmes, é algo mais. É um radar ligado, uma percepção e uma questão de inteligência.
A diferença entre ciúmes e percepção é enorme. E essa diferença está nesse lugar afiado e silencioso de quem observa, conecta pontos e simplesmente sabe do que está acontecendo.
Subestimar a inteligência de alguém, seja na oficina ou na vida amorosa, não é apenas um erro. É, acima de tudo, um ato deselegante.