O fascínio humano pelo imprevisível

    Desde os primórdios das civilizações, o ser humano é atraído por situações que envolvem risco, acaso e possibilidade de perda. Seja em jogos, decisões econômicas ou escolhas políticas, o elemento do imprevisto atua como catalisador de emoções, debates e transformações sociais. O risco, longe de ser apenas uma ameaça, também é uma linguagem cultural — uma forma de o indivíduo testar seus limites e de a sociedade medir sua tolerância à incerteza.

    Essa busca pelo imprevisível não é irracional: ela está entrelaçada a estruturas de poder, crenças coletivas e mecanismos de controle social.

    Do oráculo à roleta: a cultura do risco ao longo do tempo

    Nas antigas cidades-estado, o futuro era interpretado por sacerdotes, astrólogos ou xamãs. Com o tempo, essa mediação entre o presente e o desconhecido foi se institucionalizando em práticas sociais que iam da consulta ao I Ching até os lançamentos de dados romanos.

    Com a modernidade, o risco passou a ser calculado, estatisticamente previsto, segurado e até transformado em ferramenta de governança. Mas seu núcleo simbólico permanece o mesmo: a tensão entre controle e descontrole, entre ordem e caos.

    A experiência do risco na era digital

    Vivemos hoje em uma sociedade altamente conectada, mas também marcada por múltiplas formas de vulnerabilidade. O risco agora assume novas roupagens — desde a volatilidade dos mercados financeiros até os algoritmos que modulam nossas decisões cotidianas. Nossos dados circulam em redes que operam com base em lógicas que muitas vezes não compreendemos por completo.

    Dentro desse contexto, o jogo digital Mines Parimatch, por exemplo, tem sido citado em debates culturais como um espelho da forma contemporânea de lidar com o risco. Com sua mecânica simples, que exige uma leitura rápida de padrões e um salto de confiança a cada movimento, ele ilustra como o comportamento humano oscila entre intuição e cálculo até mesmo em ambientes virtuais. Não se trata apenas de entretenimento, mas de uma microencenação das tensões que regem nossa vida social mais ampla.

    O risco como critério de pertencimento

    Assumir riscos nem sempre é um ato individual. Muitas vezes, ele define identidades coletivas. Povos que vivem em zonas de fronteira, trabalhadores de economias informais, comunidades periféricas e populações negligenciadas pelo Estado são obrigadas a negociar com o risco diariamente. Essa convivência cria códigos de solidariedade, redes de proteção mútua e até linguagens próprias para nomear a incerteza.

    Por outro lado, setores privilegiados da sociedade podem terceirizar ou amortecer o risco por meio de seguros, tecnologias, redes institucionais. Essa desigualdade na exposição ao risco revela muito sobre a hierarquia de valor que uma sociedade atribui a seus cidadãos.

    Risco, espetáculo e consumo

    A espetacularização do risco também se tornou um fenômeno contemporâneo. Realities extremos, esportes radicais, narrativas de sobrevivência e conteúdos virais nas redes sociais constroem o risco como forma de engajamento e entretenimento. Nessa lógica, o que está em jogo não é apenas o perigo em si, mas a sua exibição controlada — o risco encenado como performance.

    Esse consumo simbólico do risco redefine inclusive os critérios do que é “corajoso”, “ousado” ou “legítimo” em nossa cultura. Influenciadores digitais, por exemplo, constroem suas marcas pessoais a partir de atos de exposição calculada, transformando o risco em capital social.

    Educação para o risco: uma urgência contemporânea

    Diante de um mundo cada vez mais imprevisível — com pandemias, colapsos ambientais, instabilidade geopolítica e crises institucionais —, torna-se urgente repensar nossa forma de lidar com o risco. Isso passa por uma educação que ensine a interpretar o inesperado, a agir com prudência e a cultivar a imaginação estratégica.

    Mais do que evitar riscos a qualquer custo, é necessário aprender a navegar por eles com consciência crítica. Isso implica fortalecer políticas públicas de amparo, fomentar a cultura da prevenção e garantir que as tecnologias de gestão de risco não aprofundem desigualdades já existentes.

    O risco como linguagem da nossa época

    Em última instância, o risco não é apenas uma variável numérica ou um evento aleatório. Ele é uma lente através da qual enxergamos o mundo — com seus medos, esperanças e apostas coletivas. Aprender a decifrá-lo é também uma forma de compreender quem somos, como nos organizamos e que futuro estamos dispostos a construir.

    Imagem: canva.com

    Giselle Wagner é formada em jornalismo pela Universidade Santa Úrsula. Trabalhou como estagiária na rádio Rio de Janeiro. Depois, foi editora chefe do Notícia da Manhã, onde cobria assuntos voltados à política brasileira